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Clima de deserto em Minas, com umidade do ar em 10%
Belo-horizontino busca maior hidratação e já muda rotina das atividades físicas ao ar livre, que são desaconselhadas das 10 às 17 horas
Jaqueline da Mata - Repórter - 26/08/2010 - 19:20
RENATO COBUCCI
Fernando Vieira caminha menos por causa do ar quente e seco
O tempo seco dos últimos dias colocou boa parte dos municípios mineiros em alerta. De acordo com o meteorologista Ruibran dos Reis, do Minas Tempo, a situação mais crítica foi vivida nesta quinta-feira (26) em Uberaba, no Triângulo Mineiro, que registrou 10% no índice de umidade relativa do ar, um clima considerado de deserto pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Na mesma região, Conceição das Alagoas marcou 12%. Outra cidade que sofreu com o ar seco foi Passos, no Sul de Minas, com 13%. E a capital mineira não ficou atrás: à tarde, viveu o seu menor índice do ano, 17%, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O resultado é um grande desconforto para a população, com tosse, garganta seca e até mesmo nariz sangrando. Em casos mais extremos, pode causar pneumonia.
Ruibran dos Reis destaca que a situação vivida no Estado é a mais crítica desde 1986, em função da sequência dos dias secos. E o sufoco deve permanecer por mais alguns dias, como prevê o Inmet. O calor só começará a ser amenizado a partir da quarta-feira (1º), quando a massa de ar quente perde a intensidade. Mesmo assim, de acordo com Claudemir de Azevedo, do 5º Distrito de Meteorologia, a umidade relativa do ar só vai chegar a índices considerados ideais pela OMS (acima de 60%) a partir da segunda quinzena de setembro.
E neste estado de alerta, a recomendação da OMS é evitar atividades físicas ao ar livre das 10 às 17 horas. Dica que vem sendo seguida à risca pela consultora organizacional Rosilene Grossi, 43 anos. Diariamente, ela pratica caminhada na Praça JK, no Bairro Sion, Região Sul da capital.
“Sempre preferi o horário da manhã, ainda mais agora. A diferença é que paro com mais frequência no bebedouro, mesmo não tendo sede, para me hidratar”, conta Rosilene. Já em casa, ela está utilizando um vaporizador no quarto dos filhos. “Mesmo assim tenho a sensação de garganta e olhos secos”, completa. Mesmo desconforto diz sentir o empresário Fernando Vieira da Silva, 47 anos. Ele ressalta que a caminhada diária acaba ficando prejudicada por causa de pigarros e dificuldades para respirar. “O ar fica mais quente e eu acabo caminhando menos. Mas não deixo de tomar água de coco”.
E não são só os humanos que se incomodam com o tempo seco. Os animais também sentem os reflexos. A dona de casa Osvaldina de Almeida, 72 anos, conta que ela e o marido, João de Almeida Silva, 75 anos, caminham sempre pela manhã com o cachorro da raça Akita. “Ele (o cão) não é de tomar muita água, mas, nos últimos dias, está bebendo demais. Além disso fica mais prostrado por causa do calor”, garante ela.
Se a secura incomoda até mesmo os bichos, o que dizer então dos alérgicos? O médico Rogério Pereira Bopp, do Instituto de Otorrino, em Belo Horizonte, afirma que a saúde dessas pessoas mais sensíveis tende a piorar em função da mudança de temperatura. “É preciso pequenos cuidados, mas de grande eficiência, para não prejudicar o sistema respiratório”, recomenda o especialista. Atitudes simples, como colocar uma toalha molhada no quarto na hora de dormir. “É tão eficiente quanto o umidificador”, garante o médico.
Segundo Bopp, o atendimento no Instituto aumentou 30% nas últimas semanas. Entre as pacientes está a filha da funcionária pública Evelin Najem, 47 anos. Flávia Najem, 7 anos, sofre de rinite e, ontem, pela manhã, teve uma crise. “No tempo seco, ela sempre piora, mas agora está demais”, disse a mãe.
Além da rinite, nesta época de tempo seco, de acordo com especialistas, é preciso atenção especial para as pessoas com problemas do coração, já que podem sofrer aumento da pressão arterial e arritmia cardíaca. Poluição é outro agravante. O bombeiro Marlon Gomes, morador de Sarzedo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), conta que o céu está sempre nublado e esfumaçado na região, que abriga diversas indústrias. O resultado é sentido imediatamente pela filha dele, Letícia, 3 anos, e a mulher Liliana, 29 anos.
“Elas têm rinite e, nestes últimos dias, estão sofrendo bem mais. De manhã, quando o sol começa a nascer, a neblina que se forma mostra o grau de poluição”, disse o bombeiro. A umidade do ar vem registrando índices baixos também em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Rondônia, Maranhão, Pará, Piauí, Bahia, Brasília e São Paulo.