"A vida para ser bela, deve estar cercada de verdade, de bondade, de liberdade.
Essas são coisas pelas quais vale a pena morrer" Rubem Alves

sábado, 17 de abril de 2010

Você conhece Cientistas de 5 anos, 4 anos, 3 anos...?
(Márcia Furiati e Sandra Drumond)

Na Escola Municipal Maria Sales Ferreira um Projeto desenvolvido pelas professoras Márcia Furiati e Sandra Drumond, propicia que crianças dessa faixa etária descubram o mundo das Ciências através de diversos experimentos científicos.
Tudo começa com a apresentação da “Mala do Cientista”, que a cada sessão traz uma proposta de experimentação e o material necessário para realizá-la. Em roda, as professoras conversam com as crianças e apresentam o material. Essa é a hora do convite! É a hora de seduzir as crianças para que desejem experimentar!
A opção por uma mala como portadora do material para experiência do dia, se deu em função de tentar aproximar da realidade das crianças a figura do cientista. Assim, se a “mala do cientista” é nossa, nós somos os cientistas. Portanto trata-se de um instrumento que coloca a ciência em poder de quem usa a mala e a partir dela faz experiências e observações, constrói, amadurece, refuta e reconstrói hipóteses, enfim, descobre as possibilidades que o pensamento científico proporciona.
O momento seguinte é de ouvir o que as crianças pensam e acham sobre o material apresentado e as possibilidades de experiências que ele proporciona. A partir daí inicia-se o processo de levantamento de hipóteses onde cada um fala sobre o que acha que vai acontecer. Nesse momento é fundamental: a escuta e a intervenção adequada das professoras para que as crianças construam ou avancem em suas hipóteses.
É chegada então, a hora de experimentar. O local da realização da experiência depende da proposta e ou do grupo. Pode ser em sala ou em outros espaços da escola.
Após a realização da experiência, retomamos a roda, agora para conclusão. É o momento de avaliarmos juntos tudo o que aconteceu: o que deu certo ou não; quem conseguiu desenvolver a proposta; quem precisou de ajuda; se as hipóteses levantadas na roda inicial aconteceram ou não e porquê. É a hora de explicar o que foi realizado.
É importante finalizar cada sessão com alguma forma de registro. Esse pode ser desenho, gravação da conversa, fotografias, filmagens ou outras formas possíveis.


É importante ressaltar que um dos critérios para a escolha das experiências é que dessem oportunidade para que cada criança pudesse realizá-la individualmente e ao mesmo tempo em que todo o grupo.
Para a preparação desse momento não é necessário a escolha de experiências muito elaboradas. Algumas vezes uma atividade simples pode dar uma ótima sessão de experiência como, por exemplo, o plantio de sementes, bolhas de sabão ou uma nova técnica artística. O que faz essas simples atividades se tornarem um rico experimento é a maneira de propor e a forma de intervenção que o professor utilizará.
Em 2008, estávamos com turmas de idades diferentes, o que não inviabilizou o Projeto. Uma turma tinha crianças de 3 / 4 anos e a outra 4 / 5 anos. Assim, além de trabalharmos os objetivos relacionados às ciências e fenômenos naturais, também trabalhamos a interação entre as crianças com idades diferentes.
Isso gerou uma troca de saberes e habilidades entre a criançada. Era comum ver as crianças maiores auxiliando as menores e se sentindo importantes por isso. E as menores tentando imitar as maiores e se sentindo mais “poderosas” por esta interação.
Neste artigo apresentaremos um bloco de experiências que usavam o ar como elemento principal.
Iniciamos o projeto em 2008 fazendo bolhas de sabão comuns, com canudinhos plásticos e bolhas de sabão gigantes com diversos tipos de instrumentos: cano de pvc, gargalo de garrafa pet, cabide de roupa, circunferências feitas com mangueiras de borracha de espessuras variadas, carretéis de linha e rolos de papelão (papel alumínio, papel higiênico e outros).
A partir dos experimentos com bolhas investimos em mais experiências com ar: cata-vento, girocóptero, prender o ar em diversos sacos plásticos.
Destacaremos agora algumas falas das crianças que mostram o pensamento científico em ação: a evolução de hipóteses, a busca do acerto através de diversas tentativas, a observação e o aprendizado com o outro e a interação entre os envolvidos.
“_ Primeiro experimentamos fazer bolinhas na água sem sabão. Não deu certo! Então colocamos o sabão na água e aí deu pra fazer muitas bolinhas de sabão.”
“_ Eu gostei muito de fazer bolha grande. Eu peguei uma daquelas borrachas pretas e coloquei na água e puxei e saiu uma bolha grandona.”
“_ Saiu mesmo, eu estava lá sentado com meu copo e eu vi ele fazer uma bolha gigante.”
“_ Eu descobri que o cata-vento roda só quando a gente corre. Quando a gente fica parado ele roda só de vez em quando. Quando sopra ou roda com a mão.”
“_ Quando tem muito vento, o cata-vento roda bem forte.”
“_ O colega me ensinou a prender o ar assim (fez o movimento).”
“_ Eu gostei de dar um tapão no meio da sacola porque o vento voou pro parquinho.”
“_ O vento é invisível.”
A intenção do professor deve ser de que as crianças experimentem, mesmo que o resultado seja óbvio (água sem sabão não faz bolha). A atitude de experimentar é que faz construir o conhecimento.
Quando o professor possibilita que as crianças inventem outras maneiras (não planejadas) de experimentar e está atento as hipóteses delas podem surgir situações inesperadas e enriquecedoras. Exemplificando, ao propormos em sala a experiência do cata-vento, planejamos que ela acontecesse no parquinho. Para a nossa surpresa um grupo de crianças permaneceu na sala, pois descobriram a possibilidade de experimentar o cata-vento ligando o ventilador da sala. Algumas crianças, ao chegarem ao parquinho e começarem a correr se depararam com os triciclos (que são utilizados no recreio) e resolveram testar o cata-vento de uma outra maneira, encaixando-o no guidom enquanto pedalavam.
Só com um olhar atento é que o professor pode perceber que ao permanecerem em sala ou ao pegarem os triciclos, as crianças não estavam burlando a atividade e sim experimentando novas possibilidades de fazer o cata-vento rodar, ou seja, exercitando o pensamento científico.
Ao trabalhar com experiências na Educação Infantil, enfatizamos o processo de construção e não o resultado final. Quando a criança conclui que o ar é invisível foi o processo que ela vivenciou com as experiências que permitiu esse conhecimento e a sua verbalização. Essa conclusão não era o nosso objetivo, mas aconteceu como conseqüência dos experimentos e trocas realizadas.
Enfim, trabalhar experiências com crianças tão pequenas enriquece, estimula e provoca em cada uma o espírito investigativo tão próprio das crianças e de um bom cientista.

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