"A vida para ser bela, deve estar cercada de verdade, de bondade, de liberdade.
Essas são coisas pelas quais vale a pena morrer" Rubem Alves

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Reportagem do Fantástico


Jovem processa mãe por usar perfil dele em site de relacionamento

Ela foi condenada a pagar multa equivalente a cerca de R$ 800 e proibida de ver o rapaz que vive com a avó. Até que pontos os pais devem interferir na vida online dos filhos?

Enquanto a mãe põe a mesa, os dois filhos adolescentes estão na sala, cada um em um computador. Por trás dessa cena tão comum, está uma dúvida frequente dos pais: será que devo controlar o acesso dos meus filhos à internet?

A professora Solange Fátima Ferrari, de Carazinho, interior do Rio Grande do Sul, sentiu no bolso a resposta para essa pergunta. Ela acaba de ser condenada pela Justiça a pagar R$ 5 mil de indenização por danos morais. O motivo: seis anos atrás, o filho dela criou uma página virtual ridicularizando um colega.

“Eu e meus amigos resolvemos alterar algumas fotos, mas nunca nós pensamos que aconteceria uma coisa dessas, que iria se entrar na Justiça”, conta o estudante Ariel Ferrari.

“Eu nunca controlei o acesso dele na internet, porque ele não tinha perfil de menino que fosse fazer uma coisa dessas”, justifica a mãe de Ariel, Solange Fátima Ferrari. “Foi brincadeira de adolescente”, declara Ariel.

O estudante Felipe de Arruda Birk, vítima de Ariel, não achou graça nessa brincadeira que, aliás, tem nome: cyberbullying. “Você tenta fazer de conta que não é contigo, mas não adianta. Estão me ameaçando, denegrindo minha imagem. E você fica nessa, ainda mais quando é adolescente, e a internet é tudo na sua vida”, comenta.

“Uma agressão dessas na internet configura o equivalente à calúnia e à difamação. O pai precisa saber da gravidade do problema, interromper de imediato e tirar o conteúdo que foi exposto do ar”, diz o psicólogo Rodrigo Nejm, da ONG Safernet.

“Eu acho que tem que ter controle. Agora, eu vejo isso, mais do que nunca”, admite Solange.

Mas quando o controle vira invasão de privacidade? Nos Estados Unidos, uma mulher foi processada pelo filho de 17 anos por ter se passado por ele em uma página de relacionamentos. Foi condenada a pagar multa equivalente a cerca de R$ 800 e proibida de ver o rapaz que vive com a avó.

Será que é possível conciliar o controle do que o seu filho faz na internet com um pouco de liberdade? O corretor de seguros Antonio Carlos Silvestre encontrou uma solução intermediária: “A ideia foi criar uma comunidade na qual eu me juntei a outros pais e nós fomos aprendendo como ir permitindo que os nossos filhos conheçam as redes sociais. Hoje já são quase 1,7 mil pais. Tem lá uns 50 filhos que brigam conosco”.

Antonio é pai de Pedro, 11 anos, e Lucas, de 15. Ele mantém um caderno com as senhas atualizadas de todas as contas virtuais dos filhos. Será que os meninos se incomodam?

“A princípio eu não gostei muito. Eu não gostava que ele tinha todas as minhas senhas. Depois, eu comecei a entender e acabei aceitando”, comenta Lucas Silvestre, de 15 anos.

“A princípio, eles olhavam e falavam: ‘o pai do Lucas monitora’. Mas se tornaram amigos do pai do Lucas. Não só nos aproximou do Lucas, mas dos amigos do Lucas”, compara a mãe de Lucas e Pedro, Juliana Silvestre.

Na casa da família Souza, no Rio de Janeiro, os computadores estão por toda parte e a palavra de ordem é confiança.

“Meu pai me explica o que é certo e o que é errado e eu tento seguir essas orientações melhor que eu posso”, conta Breno de Souza, de 11 anos.

“Eu acho que a curiosidade acaba sendo maior, quando você tem uma proibição muito grande. Às vezes, ele sai do computador, deixa a página aberta e vem um amigo e pergunta ‘Breno, cadê você?’. Eu falo que ele deu uma saída e já volta. Não tem essa preocupação dele e nem nossa de estar escondido”, justifica a empresária Mônica de Souza.

“Participe, conheça quem são os amigos do seu filho, tenha também você um perfil. É um jeito de conhecer seu filho novo também, pela internet”, aposta corretor de seguros Antonio Carlos Silvestre.

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